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Durante
toda a terça-feira passada (21 de julho) estive distante do mundo visual do qual faço parte, afinal, trabalho com Moda e dos olhos dependo inteiramente. Sim, você entendeu direito, Fiquei um
dia Inteiro ABSOLUTAMENTE CEGA!
Escolhi
sentir essa sensação, pois, foi através da cegueira da mulher mais incrível que
conheci que aprendi que nada nessa vida é impossível! Essa mulher era minha avó
e na semana passada fez 17 anos que ela nos deixou!
Minha
vó ficou cega após um erro médico, mas nunca reclamou ou se deixou abater. Ela
fazia de tudo em casa, desde lavar roupas, brincar e cuidar dos netos pequenos
até mesmo cortar legumes bem pequeninos e todos certinhos, sem nunca se
cortar!!!! A única coisa que minha avó não fazia era sair pelas ruas.
Naquela época, a mobilidade para os deficientes visuais era muito reduzida. Diante disso, convidei os seguidores do Projeto EUXPERIMENTO* para me acompanhar numa aventura pelas ruas, a fim de sentir o se a mobilidade é melhor hoje em dia. Minha guia dessa aventura foi a minha amiga Lizandra Alvarez!
Minha Vó Maria dos Anjos - Meu Exemplo |
Naquela época, a mobilidade para os deficientes visuais era muito reduzida. Diante disso, convidei os seguidores do Projeto EUXPERIMENTO* para me acompanhar numa aventura pelas ruas, a fim de sentir o se a mobilidade é melhor hoje em dia. Minha guia dessa aventura foi a minha amiga Lizandra Alvarez!
Com direito a tampão e tudo! |
Mas por que só um dia? Os olhos que ficam muito tempo fechados ressecam muito e a falta de exposição à luz poderá prejudicar minha visão quando eu retomar a vida normal.
Minha Primeira aventura do dia: Comprar minha bengala.
Minhas queridas amigas Gilze Francisco e Silvana, do Instituto NEOMAMA me emprestaram uma bengala, mas como sou meio altinha (tenho 1,80) a bengala ficou curta, não me restou outra opção a não ser buscar uma que se ajustasse à minha altura.
Lá fomos nós! Lizandra e eu atrás dos meus olhos. Fomos de linha regular e deu tudo certo! O Motorista cortês teve bastante paciência ao me esperar embarcar e desembarcar.
“Novos
Olhos”
A
bengala ajuda o portador de deficiência visual a deslocar-se melhor e com mais
autonomia, visto que permite sentir o solo e perceber os pontos de referência
dos locais por onde caminha.
Na
foto, estava dando, literalmente, meus primeiros passos com os “novos olhos”
que me guiariam pelo dia todo!
Pedras nos Caminhos
Quem
inventou colocar pedras portuguesas nas calçadas não sabe o que é ter de usar
bengalas...
É
horrível andar nesse tipo de chão manipulando esse tipo de bengala, pois, sua
ponta fininha prende nas pequenas ranhuras do chão. Além disso, o desnível
gerado por elas faz a gente tropeçar... Pensa num pesadelo!!!
Falta de Pedras no caminho
Mas
não são só as pedras portuguesas que atrapalham a vida de um deficiente
visual.... há também os pisos quebrados, as calçadas desniveladas...
Mais Obstáculos
Pra
completar o portfólio de pesadelos urbanos, ainda têm as lixeiras, as contenções
das raízes de árvores, as próprias árvores quando estão com os galhos muito
baixos que insistem em bater na minha cara (e dói!!!!), as muretas baixas, as
folhagens dos muros... me senti no GTA!
Desenvolvendo outros sentidos
Apesar de todos os obstáculos que eu encontrei pelo caminho - no sentido literal da palavra – foi brilhante passar esse dia sem enxergar, juro!
Minha audição se ampliou de um jeito extraordinário, meu olfato ficou tão aguçado que eu reconhecia perfumes pela rua, os meus pés estavam firmes e eu podia senti-los, minha imaginação estava um turbilhão e minha memória afetiva estava ativadíssima. Em geral, no corre diário, a gente nem percebe essas coisas tão simples, mas que fazem um bem...
Surpresas
Apesar de não ver a reação das pessoas em relação a mim, pude sentir uma forte energia emanando delas. Obviamente, nem todo mundo se solidarizou com a minha performance desajeitada enquanto deficiente visual, mas pude sentir no meu coração a compaixão de muita gente. Fiquei tão feliz de ver que ainda existem seres humanos capazes de serem humanos!
Fui até parada na rua por uma senhora com o coração mais lindo do dia que até me falou um poeminha:
Apesar de deficiente,
Você é capaz de chegar tão longe quanto toda gente,
Por isso, Cabeça Erguida e Siga Em Frente!
Você é Valente!
<3 morri <3
Os caminhos percorridos
Comecei minha caminhada as 8 da manhã e só parei de andar as 18 horas.
Pra quem conhece Santos, andei do canal 2 (imediações da Carvalho de Mendonça) até o canal 5 (Praia) a pé, sempre guiada pela minha fiel escudeira Lizandra. Durante o trajeto, o tempo mudou radicalmente. Se no dia anterior estava super quente, no dia do meu Euxperimento choveu muito e ventou super forte (Me Lasquei!!!!). O frio era intenso e isso acabou prejudicando meu rendimento. O cansaço e o esforço físico ganharam proporções elevadíssimas tanto em mim quanto na Liz, minha guia.
Vale a Observação: Durante a caminhada, descobri que meu senso de direção é bom, porém, pernas e mente não estavam coordenadas. Mentalmente eu achava que estava em um local, mas na verdade estava bem atrás disso... Engraçado como o corpo e mente, apesar de estarem no mesmo Ser, nem sempre estabelecem uma comunicação fluida!
Adversidades
Eu
tinha intenção de ficar 24 horas ceguinha, mas devo ser honesta, foi
impraticável ficar todo esse tempo! Essa experiência exigiu muito de mim e nem
foi exatamente pelo fato de não enxergar. Isso foi o de menos, pra ser sincera!
A
exigência mental foi imensa, não enxergar implica em desenvolver na marra os
outros sentidos. O tato era o mais necessário e o meu não estava preparado para
essa intensidade. Andar de bengala não é nem um pouco fácil, ela até ajuda, mas
eu não conseguia dimensionar o tamanho dos obstáculos à frente, muitos deles eu
nem detectava! Essa situação me colocou num estado de alerta constante e meu
corpo tratou de se preparar para qualquer coisa: uma queda, um tropeço, uma
“arvorezada” na cara... Tensão muscular foi inevitável, pois, na ânsia de estar
preparado para essas adversidades, corpitcho se encolheu e enrijeceu todo!
O
clima do dia também tratou de não colaborar... Ao longo da caminhada, poças
d’água se formaram, algumas calçadas passaram a ficar escorregadias, eu estava
molhada e com frio, Lizandra, minha guia, também. Guarda-chuvadas na cara foram
inevitáveis... o ambiente se tornou hostil para a ceguinha aqui!
A
Guia, coitada, ficou quase louca tendo que segurar a ceguinha, o guarda-chuva
que virava toda hora e ainda tirar as fotos que vocês estão vendo! Em tempos de
telefone com touchscreen, não rola selfie em braile não!
No
final da tarde eu já estava com muitas dores no corpo e na cabeça... até com
febre eu fiquei, mas, beleza, é a Mudança de paradigma se instalando na minha
Alma!
Autonomia e Humildade
Quer
saber o que foi mais difícil e que demandou mais resiliência do que eu esperava
nesse Euxperimento? O Orgulho... tive que deixar de lado e pra abrir espaço pra
HUMILDADE! Eu, que sou adepta ao DO IT YOURSELF só por que detesto depender das
pessoas, passei o dia todo na dependência da Lizandra (que, aliás, é uma ANJA!).
Muitas vezes sei que abusei de sua paciência e boa vontade, mas eu não tinha
escolha, eu não tinha as ferramentas que me dariam autonomia naquele momento.
Quanto tudo está funcionando na nossa vida, é moleza ser independente, mas eu
estava numa situação vulnerável!
Se
ela não estivesse ali de braços dados e de coração aberto comigo durante toda a
jornada, eu não teria conseguido. Enquanto ceguinha, eu não conseguiria
atravessar uma rua sozinha... Não havia nenhum sinaleiro sonoro de transito no
meu percurso e, mesmo quando havia, eu não conseguia identificar as linhas
especiais para deficientes físicos no piso. Nem preciso falar das lixeiras que
insistiam em entrar sorrateiramente na minha frente, né?
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Outro ponto considerável é a questão do dinheiro. Eu não saberia qual nota de dinheiro eu deveria usar para pagar o restaurante, o ônibus... braile no dinheiro, gente, Demorou!
Ah, se não fosse a Lizandra, Eu teria me perdido no banheiro do supermercado! Meu Deus! Pânico Total!
Resultados
Aventura ta acabando. Mas, preciso dizer que esse
vídeo Foi gravado na Pinacoteca Benedito Calixto em Santos. Lá, acontecem
muitas exposições de arte. Mas o que uma ceguinha foi fazer lá? Em princípio,
fui me abrigar da chuva e do vento cortante, mas ao chegar lá, só o cheirinho,
só de tocar nas paredes, tatear tudo, me deu uma sensação boa... <3
Dica da Ceguinha - Bora deixar a Pinacoteca Acessível
aos Deficientes Visuais, gente! A arte não precisa ser só visual, pode (e deve)
alcançar todos os sentidos e corações!
#Partiu
Quando a canseira bateu forte, de verdade, pegamos o ônibus sentido canal 7 e fomos embora. Eu, em horário de pico, sentada no banco preferencial e com razão! A senhora ao meu lado me ajudou a sentar. Se não fosse ela, ia me estabacar no chão!
Resumo dos Bas-Fond: Autoconhecimento Pleno e Sem Volta!
Com essa EUxperiência, renovei meu PACTO COM A VIDA, exerci a gratidão e mergulhei dentro de mim em busca do meu melhor!
Apesar de não chegar em 24 horas cega como havia me proposto, sinto que evoluí ANOS LUZ na Vida e, principalmente, honrei a memória da minha avó e de todos os deficientes visuais que residem aqui, pois, pra mim, isso não foi uma brincadeira! Me Doei de Emoticon heart e ESTOU FELIZ DEMAIS POR TER VIVIDO ISSO Emoticon heart
Agora que voltei ao meu estado de normalidade, posso entender a importância de agradecer TODO SANTO DIA pela benção de poder enxergar, independentemente de fazer isso com os olhos. O conceito de enxergar é muito amplo e os olhos são uma pequena parte disso!
Quero registrar aqui meu agradecimento especial à Lizandra Alvarez, essa linda que foi os meus olhos nessa aventura. Ela, assim como eu, se doou por essa causa! Agradeço também aos lindos Cristiana Ventura e Richard Hodara, idealizador do Euxperimento, que compraram minha idéia e me apoiaram desde o início!
Agora a bengalinha vai pro Instituto Neo Mama, onde ela ajudará, certamente, alguém muito especial que fará bom uso dela!
Projeto EUXPERIMENTO* é um projeto que tem um cunho psico-social. Quero motivar as pessoas a tomarem riscos, mostrar pra elas que elas nunca estão a sós. Rever todo seu cotidiano, a sua maneira de lidar com as coisas, a maneira de se enxergar e ,depois de mexer lá dentro, o euxperimentador não vai ter outra opção a não ser de se transformar e quem sabe depois disso passar a experimentar sempre, perder os medos para então finalmente começar a viver a vida mais leve…
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Nossa minha querida bochechudinha! Que post fodásticooooo! Que inspiração, que coragem! Eu estou aqui emocionada e me sinto tão grata! Consegui captar sua experiência. E o que mais me tocou foi sua ficha cair sobre "não depender de ninguem"! Uau!!!! Eu adorei Camila! Parabens tbm a sua querida guia Lizandra Alves.
ResponderExcluirOii Camila... adorei seu euxperimento... Você e incrível... Parabens...
ResponderExcluirParabens Parabens.... Voce e demais
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